Após revisitar conceitos e proposições lacanianas estabelecidos em sua última aula, Carla Serles convida a seguirmos pelas veredas da psicose, temos assim a oportunidade de saber do despedaçamento do corpo, do gozo ilimitado e da dispersão dos significantes tão marcadamente presentes na psicose. No psicótico, os pedaços de corpo podem gozar em plenitude, na medida em que este sujeito encontra-se a mercê do gozo do Outro, imperativo, sem freios.
Nele a lei não opera, é sem efeito, o que impede que o gozo seja interditado. A linguagem se reafirma como um “órgão que pré-existe” ao sujeito.
Ora, é um equívoco do neurótico crer que os significantes residem no interior do corpo, nesse ponto, os psicóticos se aproximam da verdade, pois os significantes, de fato, estão do lado de fora. Quer dizer, fora deles. Então como pode um sujeito apropriar-se dos significantes? Essa questão deve perpassar a clínica de cada analista, à medida em que ele recebe cada um desses pacientes.
Em se tratando da psicose a foraclusão é a única resposta possível ao que lhe é penoso: a castração. Não reconhecê-la no outro é não reconhecê-la em si próprio. Não inscrevê-la. Assim, a metáfora paterna fracassa, há uma ruptura na cadeia de significantes. O nome do pai falta. Em decorrência disso, falta ao psicótico enunciados fundamentais (significantes mestres), que uma vez entrelaçados, permitiram a representação do sujeito. Ao invés disso, temos “um enxame de significantes, totalmente dispersos”.
Essa condição convoca à tentativas de busca de sentido, eis a função do delírio na psicose, dar sentido ao que está fora do sentido. Ele, o psicótico, está fora da significação fálica, não tem dúvidas, nada dialetiza. Em seu mundo, há somente o absoluto e ele, o sujeito da certeza.
Por Flávia Mendes
Revisado por Carla Serles