segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O excitante amor ao diferente

A filha, ao mesmo tempo que se despede da mãe que está indo para a missa, pedindo que lhe trouxesse um doce quando voltar, fala ao telefone com o namorado, passando as coordenadas dos movimentos da mãe, para que o assalto planejado pelo bando desse namorado seja feito com a melhor precisão.

De uma só vez essa menina, de cara angelical e voz infantilizada, consegue romper dois dos principais tabus sociais: mãe e religião. Com mãe e Deus não se brinca, ditava a cartilha de qualquer meliante. Quando os "intocáveis" do laço social começam a desmoronar, com justa razão há um alerta geral, e essa pequena notícia veiculada nessa semana fica incomodando tal qual uma espinha, ao lado de tragédias bem mais retumbantes.

A menina é loira, estudante de direito, filha de professora universitária e de procurador de Justiça. O menino é moreno, office-boy, procurado pela Justiça. Silêncio: cuidado com pensamentos politicamente incorretos sobre essa união. Que ninguém venha falar que o menino é o lobo mau dessa doce chapeuzinho. Nem a mãe nem o pai da menina nada devem ter dito, dada a convivência íntima por dois anos, em sua casa. Tem muito pai e mãe que não falam mais nada para seus filhos, hoje em dia, amordaçados pela patrulha do politicamente correto. Se disserem alguma coisa, estarão discriminando. Mas não haveria uma forma de se falar, sem ser condenado por sua opinião? Vejamos.

Quando pessoas convivem por muito tempo, de duas, uma: ou elas têm muita coisa a repartir - interesses, valores culturais e éticos -, ou elas, sendo muito diferentes, tentam anular a diferença que as afasta, hipertrofiando os prazeres básicos sexuais e anulando qualquer outro sistema de laço social que as distancie. Logo, o desastre não é decorrente do fato de um ser supostamente melhor que o outro, mas de que, quanto mais distantes forem, mais primária, no sentido de menos elaborada, será a relação, necessariamente. O duro, a se acrescentar, é que o amor entre os diferentes é muitas vezes mais excitante do que a modorrice dos semelhantes. Será que os pais poderiam explicar isso a seus filhos e, especialmente, a si próprios? E mais, nem sempre o que é explicado tem que ser entendido. Pais não devem temer o mal-entendido; não há um bom pai, ou boa mãe - seja o que for que entendamos por isso - que já não tenha ouvido "eu não gosto de você" de um filho. Logo, pais, não recuem quando não concordarem, quando não aceitarem.